terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A não-violência em Jesus de Nazaré

É relevante captar as mensagens que nos são passadas, sem ideias pre-concebidas a transmutar-lhes o verdadeiro sentido. Deve-se compreender "o que foi dito" e não o que "desejaríamos ouvir".

Não coloco em dúvida a existência de Jesus na face da Terra. Antes, aceito-a como um dado histórico relevante. Mantenho pensamento objetivo, desvinculado de reflexos ideológicos, mas continuo a discordar de alguns discursos que, eloquentemente, afirmam que na história de Jesus de Nazaré não existe violência, de espécie alguma.

Sem ignorar o relevante conteúdo das parábolas sobre Bondade, Paz e Amor ao próximo exaradas - supostamente - por Jesus, alguns fatos tidos como históricos merecem análise.

Difícil encontrar quem desconheça o fato (verdadeiro ou não) de que o nascimento do menino Jesus provocou a maior matança dos tempos antigos - quando Herodes ordenou aos seus soldados que executassem todas as criancinhas até dois anos de idade, na esperança de assim, exterminar aquele que um dia seria o "Rei dos Judeus". Portanto, a história de Jesus inicia com derramamento de sangue - ato indigno, covarde e aviltante contra o ser humano arrancado dos braços das genetrizes, ainda nos seus primeiros anos de vida.

Mais tarde, leremos no Evangelho de João (o único que se refere ao episódio), a presença de um “chicote de corda” nas mãos de Jesus, quando expulsa os fariseus do templo. Esta passagem é justificada porque Jesus não atacou as pessoas (cambistas e vendedores), mas os “animais” – compreendidos como as figuras do povo. O chicote seria o símbolo do Messias libertador, então representado com um chicote na mão. Neste contexto, Jesus estaria “resgatando” suas ovelhas do perigo dos lobos e dos falsos pastores. Oras, se os pais espancarem seus filhos, sob a justificativa de ser necessário salvá-los dos vícios encontrados nas ruas, das más companhias e do uso das drogas, praticarão violência... ou não?

Por outro lado, qual a explicação para a presença das espadas e dos zelotes (cuja ideologia fora rejeitada pelo Mestre) no grupo de Jesus? Um dos apóstolos – Simão – era chamado de “o Zelote”, apelido nunca explicado. Outro discípulo, ao proteger Jesus, teria ferido um servo do sumo sacerdote. Em outra passagem, é o próprio Jesus quem se refere ao porte de arma - quem não tiver uma espada, que venda seu manto e compre uma.

Alguns estudiosos justificam a passagem evangélica, ao dizerem que as espadas eram para se fazer portar, mas não para serem usadas. Prova disto, dizem, é que ao ser inquirido por um dos seus discípulos sobre se deveriam usar a espada, Jesus ordenara que fossem embainhadas, pois aqueles que usassem a espada, pela espada morreriam. Parece-me que Jesus recusava a violência, ao mesmo tempo em que afirmava ser aquele o "momento de luta". Contudo, isto não significa, necessariamente, que a luta se fizesse através da espada; poderia sê-lo através do intelecto - ou da própria Fé, como evidenciaram os cristãos, nas arenas, ao serem lançados aos leões, sob a tirania da Roma Antiga.

Quanto à morte de Jesus, considero-a execução em exacerbado grau de humilhação e violência...

Ainda que fosse possível esquecer os acontecimentos irascíveis e desumanos evidenciados por ocasião do nascimento e da morte de Jesus, a inquietação (fruto da incoerência histórica) persistiria - a simples aceitação das armas no grupo de Jesus não contraria a mensagem cristã da não-violência?


Rio de Janeiro, 20 de dezembro de 2011
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz

Nenhum comentário: